Um novo segmento para os fundos imobiliários? Com avanço da inteligência artificial, data centers entram na mira dos FIIs — e cotistas podem lucrar com isso

July 24, 2025

Com a possibilidade de o país se tornar um hub de centros de processamento de dados, esses imóveis deixam de ser apenas “investimentos diferentões”

Não há como escapar: a inteligência artificial (IA) está em todo canto. Do mercado de trabalho a roteiros de viagem, cada vez mais pessoas usam — ou deveriam usar — a tecnologia para atividades do dia a dia.

Com o avanço da IA no mundo todo, os chamados data centers ganham destaque. Eles são centros de processamento de dados, ou seja, empreendimentos extremamente especializados e de altíssima tecnologia, que funcionam como a infraestrutura física que possibilita a operação da inteligência artificial — mas não se resume apenas a ela.

Apesar de serem pouco conhecidos, esses empreendimentos entraram na mira dos fundos imobiliários, uma vez que o Brasil figura entre os países mais favoráveis para o desenvolvimento de data centers.

Com a possibilidade de o país se tornar um hub de centros de processamento de dados e com o aumento da demanda pela tecnologia, esses imóveis passaram de um investimento “diferentão” para um novo horizonte para o mercado imobiliário.

Para entender se os data centers serão um segmento para os fundos imobiliários e como os investidores podem ganhar com os novos ativos, o Seu Dinheiro consultou os especialistas Fábio Idoeta, CFO e diretor de relações com investidores da Sequóia Properties; Fábio Carvalho, sócio da Alianza Investimentos e gestor do FII Alianza Trust Renda Imobiliaria (ALZR11), que vem apostando em data centers; Marcelo Hannud, CEO da Aurea Finvest e especialista no segmento; e Marx Gonçalves, head de fundos listados da XP Investimentos.

Quem olha um data center de fora não vê mais do que um galpão logístico. Porém, a semelhança entre os imóveis começa e termina aí.

Os centros de processamento de dados possuem uma infraestrutura especializada, o que inclui sistemas de resfriamento e de fornecimento de energia elétrica, conectividade de alta velocidade e segurança avançada.

Além disso, por não poderem parar, os data centers precisam ter acesso a sistemas de reserva de energia, o que torna a questão da produção energética o elemento mais crítico para a economia digital, segundo os especialistas.

E é aí que o Brasil brilha. Com uma matriz energética diversificada e limpa, ou seja, que prioriza fontes renováveis, o país se destaca como um local com potencial para desenvolvimento de centros de processamento de dados. 

“O Brasil produz energia de boa qualidade, em quantidade, e ainda tem capacidade de expandir, porque tem um custo atrativo e confiabilidade. Tudo isso é essencial para um data center”, afirma Fabio Carvalho, em entrevista.

Mas não para por aí. O país possui outras características fundamentais para o desenvolvimento desses imóveis, como uma boa conectividade com fibra óptica, além da estabilidade geopolítica e a localização geográfica. 

Isso porque o Brasil raramente é alvo de guerras e está localizado, ao mesmo tempo, perto dos Estados Unidos e da Europa, o que facilita o acesso à fibra óptica no território.

Contudo, há uma região no país que chama ainda mais atenção para o mercado: o Nordeste e, mais especificamente, Fortaleza. A cidade é um importante ponto de conexão, onde chegam cabos de fibra óptica que ligam o Brasil à Europa e aos Estados Unidos.

Além disso, por ser uma região com infraestrutura de qualidade, há acesso a sistemas de escoamento de energia.

Data centers na mira dos fundos imobiliários

A atratividade do Brasil e a alta demanda por data centers vem mudando a forma como o mercado imobiliário enxerga esses imóveis. Marcelo Hannud conta que, antes da popularização da inteligência artificial, esses empreendimentos eram avaliados pelos gestores como ativos do setor energético, e não do setor imobiliário.

Porém, agora, a visão é outra. Segundo os analistas, os data centers nada mais são do que imóveis, apesar de contarem com uma alta especificação e padrões de operação global.

“O modelo de negócio dos data centers é muito familiar para os gestores de fundos imobiliários, só muda a especificidade do ativo, mas isso existe em todos os segmentos do mercado”, afirma Fábio Idoeta ao Seu Dinheiro.

O CFO da Sequóia Properties ressalta ainda que, no mercado internacional, já existem ativos imobiliários que se assemelham aos FIIs e investem em centros de processamento de dados. São os Real Estate Investment Trusts (REITs).

Além disso, os fundos imobiliários são formas eficientes de investimentos no setor em comparação com o investimento direto. Assim, os FIIs se consolidam como uma plataforma propícia para o desenvolvimento de data centers no país, possibilitando o aumento da construção desses imóveis no Brasil.

Os especialistas também destacam que os centros de processamento de dados são considerados ativos de renda, característica presente nos portfólios dos fundos imobiliários.

Por isso, é consenso entre os participantes do mercado: é apenas uma questão de tempo para que os FIIs de data centers se tornem um novo segmento imobiliário.

Obstáculos para os FIIs de data centers

No entanto, o desenvolvimento do setor ainda é uma perspectiva de longo prazo. Isso porque a construção desses imóveis leva anos para ser concluída.

Além disso, de acordo com os especialistas, o Brasil ainda precisa desenvolver mão-de-obra especializada, criar legislações voltadas para os data centers e criar incentivos fiscais para estimular a vinda de grandes empresas de tecnologia para o país.

Em junho, o vice-presidente Geraldo Alckmin anunciou uma política nacional para data centers, chamada Redata, que seria lançada ainda naquele mês. O objetivo seria oferecer incentivos, como a isenção de impostos, para impulsionar a atividade no Brasil.

Contudo, com a crise do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a proposta do fim da isenção dos dividendos dos fundos imobiliários, a iniciativa acabou ficando em segundo plano.

Na visão dos analistas, a taxação dos proventos impacta no desenvolvimento de FIIs de data centers no país, uma vez que afeta o setor imobiliário como um todo, ao reduzir a atratividade do investimento. “Não inviabiliza, mas desestimula a criação de data centers, já que dificulta a captação de recursos e expansão dos fundos”, avalia Marx Gonçalves.

Apesar disso, um possível incentivo fiscal é visto como positivo. “A desoneração é um passo importante, mas não é suficiente por si só. É necessário também melhorar o ambiente regulatório e facilitar o financiamento”, afirmou o head de fundos listados da XP Investimentos.

Enquanto o ambiente nacional ainda está em desenvolvimento, o que vem ocorrendo no mercado imobiliário é a incorporação de data centers em FIIs híbridos, ou seja, que alocam seus recursos em diversos tipos de ativos.

Já os fundos imobiliários de papel — os quais investem em títulos do mercado imobiliário —, devem entrar no segmento de data centers após o desenvolvimento dos FIIs de tijolo. Isso porque, segundo Idoeta, quando houver demanda para a construção, os recebíveis imobiliários entrarão no radar como formas de financiamento.

Aos olhos do investidor: as vantagens do data center

Com a proliferação dos data centers no Brasil, quem deve sair ganhando são os investidores. Segundo os analistas, em geral, esses ativos são construídos no modelo built-to-suit, ou seja, desenvolvidos sob medida para atender às necessidades específicas de um determinado locatário.

Dessa forma, os imóveis já nascem com um aluguel recorrente previsto. Além disso, os contratos de locação são atípicos, ou seja, possuem prazos longos, sem revisional no meio do período de locação, e contam com multas altas de rescisão.

“Como os data centers são imóveis específicos e de difícil reposição no mercado, os contratos atípicos protegem os fundos imobiliários de uma rescisão antecipada e até de inadimplência”, avalia Gonçalves.

Segundo o gestor da XP Investimentos, o modelo de contrato também é interessante por contribuir para uma maior previsibilidade no recebimento de aluguéis mesmo em um cenário de ciclos econômicos difíceis, o que é uma característica do Brasil. Além disso, garante o reajuste dos valores pela inflação.

Os FIIs que investem em data centers também contam com inquilinos de peso, uma vez que os usuários dos imóveis costumam ser grandes empresas de tecnologia, que são consideradas boas pagadoras. 

Assim, essas características aumentam a segurança para o investidor sobre o recebimento dos aluguéis a longo prazo.

Além disso, os cotistas passam a ter acesso a investimentos no segmento de tecnologia e diversificam a carteira de imóveis, o que, em geral, é visto como desejável pelos especialistas do setor imobiliário.

Nada é perfeito: os riscos e o perfil de investimento

 Apesar das vantagens, como todo investimento de renda variável, há riscos nos ativos de data centers que precisam entrar na balança.

Devido às características do imóvel, os FIIs ficam dependentes de um perfil específico de inquilino, o que dificulta a reposição no mercado em caso de rescisão do contrato.

Além disso, se o objetivo do investidor for obter lucros extraordinários, os data centers não são os ativos mais indicados. Isso porque, com os longos contratos de locação, dificilmente os aluguéis terão um crescimento muito rápido acima da inflação.

Lucros excessivos com a venda dos imóveis também são raros com esses empreendimentos, uma vez que raramente os inquilinos optam por sair do local.

O estágio de desenvolvimento dos data centers no país também pode pesar no bolso, já que a construção de centros de processamento de dados exige um alto investimento inicial.

Após a criação desses imóveis, no entanto, ainda há a necessidade de um grande terreno para a expansão do empreendimento, que, segundo os especialistas, é bastante comum — e caro.

O cenário de alta de juros no Brasil torna a captação de recursos para os ativos imobiliários ainda mais complexa. Com a Selic a 15% ao ano, os investidores tendem a migrar para os investimentos de renda fixa, o que reduz a emissão de cotas dos FIIs.

Dessa forma, na visão dos analistas, os data centers são mais recomendados para investidores com perfil conservador, que valorizam a estabilidade do fluxo de caixa, e uma potencial valorização do ativo a longo prazo.

O que vem por aí

Apesar do momento econômico do Brasil, o investimento em data centers já está no radar dos gestores.

Na Sequóia, o fundo imobiliário Sequoia III Renda Imobiliária (SEQR11) possui um ativo no portfólio que está cotado para ser transformado em data center, segundo Idoeta.

O imóvel é um galpão logístico localizado na Penha, em São Paulo, e está vago desde março de 2024. Apesar do ativo ter características adequadas para a operação, o executivo avalia que os investimentos em data centers, por parte da gestora, devem ocorrer apenas no longo prazo.

A Alianza, em contrapartida, vem avançando no setor. Além dos investimentos através do ALZR11, a gestora firmou uma parceria, no início deste ano, com um investidor institucional, o GIC, segundo apurou o Seu Dinheiro. O objetivo da iniciativa é investir até R$ 3 bilhões em data centers no Brasil.

Já a Aurea Finvest, apesar de não ter planos de se tornar uma gestora de fundos imobiliários, pretende associar os data centers construídos pela desenvolvedora a FIIs.

July 24, 2025

Sumário


Por Itrês Stretegic 17 de julho de 2025
O que vem sendo chamado de “reindustrialização” do Brasil é uma das poucas pautas que mobilizam diferentes entes governamentais no mesmo sentido: municípios, estados e governo federal. E é uma oportunidade para os players imobiliários com capacidade de atender à demanda por espaços industriais. Não faltam exemplos da intenção do poder público de estimular o setor, como o próprio plano Nova Indústria Brasil, lançado pelo Ministério da Indústria, ou os incentivos regionais, a exemplo do que vem sendo feito por governos estaduais como Minas Gerais ou Bahia, que reformularam sua política de incentivos industriais. Ao mercado imobiliário cabe olhar para esse cenário, viabilizar soluções inovadoras, criar valor para empresas e comunidades e, ao mesmo tempo, capturar oportunidades de negócios com projetos de alta rentabilidade. Os condomínios industriais representam uma dessas soluções – um modelo que atende à urgência de acelerar investimentos, reduzir riscos e gerar desenvolvimento econômico regional. Diferentemente do tradicional processo de implantação de uma indústria em terrenos isolados, marcado por entraves burocráticos, altos custos de infraestrutura e longos prazos de licenciamento, os parques industriais multiempresariais entregam uma alternativa mais ágil e competitiva. Com infraestrutura de ponta, localização estratégica e serviços compartilhados, esses empreendimentos não só simplificam a instalação de novas plantas como também se tornam plataformas para integração entre empresas, fornecedores e comunidades locais. Um estudo da PwC Brasil reforça a atratividade do modelo ao apontar que projetos industriais em condomínios podem reduzir em até 40% o tempo de implantação e em 20% os custos operacionais com infraestrutura. Em um país onde a burocracia é historicamente um desafio para investidores, esses ganhos representam uma vantagem decisiva. Além disso, a adoção crescente de práticas ESG nos projetos – como eficiência energética, reuso de água, gestão de resíduos e certificações ambientais – agrega valor ao ativo imobiliário e o torna mais alinhado às exigências de investidores globais e das próprias cadeias produtivas. É uma equação que une impacto econômico positivo e rentabilidade, criando um círculo virtuoso entre indústria, infraestrutura e desenvolvimento regional. Nos próximos anos, espera-se uma expansão significativa dos condomínios industriais no Brasil, impulsionada pelo crescimento do e-commerce, pela necessidade de logística eficiente e pelo interesse de fundos imobiliários e players internacionais em ativos produtivos de qualidade. Regiões com vocação industrial e logística consolidada, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, seguirão liderando, mas há grande espaço para expansão em áreas estratégicas do interior e no entorno de pólos agroindustriais. Acompanhei recentemente o caso da instalação da multinacional DSM-Firmenich em um parque industrial em Minas Gerais, um exemplo concreto do poder desse modelo. A unidade foi concluída em apenas 16 meses – da aquisição do terreno à operação da fábrica, um feito raro no Brasil. Segundo a empresa, a combinação de infraestrutura pronta, agilidade no licenciamento e suporte técnico foi determinante para o investimento se concretizar. Outro caso que vale ser conhecido são os projetos do Brazilian Business Park (BBP) na cidade de Jarinu, no interior de São Paulo, que com uma ampla visão de negócio, agregou valor com a oferta de inúmeras facilidades para a implantação e operação das plantas industriais nos condomínios desenvolvidos. Os casos ilustram como os condomínios industriais podem ser catalisadores de uma indústria mais ágil, integrada e com maior impacto regional. É o momento de olhar para os condomínios industriais não apenas como uma resposta às necessidades da indústria, mas como uma oportunidade para nosso setor inovar, capturar valor e participar ativamente da construção de um Brasil mais competitivo e sustentável. O potencial está posto: cabe a nós materializá-lo com visão de longo prazo, projetos de qualidade e gestão profissional.
Por Itrês Stretegic 19 de junho de 2025
Em tempos de incerteza, poucas escolhas oferecem tanto segurança emocional quanto racional. E, no Brasil, quando se pensa em investimento, são os imóveis que cumprem essa função. Ao longo dos anos, o mercado imobiliário tem demonstrado uma capacidade de resiliência constante diante de cenários turbulentos. Essa resiliência está enraizada na cultura, no comportamento econômico e na estrutura do próprio mercado. Nós, brasileiros, temos uma relação quase sentimental com o imóvel. Esse vínculo vem da nossa tradição de formar patrimônio, fortemente influenciada pela herança ibérica. Em momentos de instabilidade política, inflação, desemprego ou volatilidade nos mercados financeiros, o primeiro instinto de grande parte da população é proteger o que possui. E nada representa melhor essa proteção do que algo tangível, concreto. É claro que o mercado imobiliário sofre com cenários como o atual, com juros altos e perspectivas de desaceleração da economia. Mas a particularidade do setor é justamente o tamanho desse impacto. Historicamente, em momentos de crise, o mercado imobiliário não se retrai mesmo em meio às turbulências. Pelo contrário, mantém uma dinâmica ativa e, em alguns nichos, até cresce. Embora haja perfis diferentes tanto entre compradores como entre investidores de imóveis, o comportamento costuma se manter estável independentemente do contexto macroeconômico. O consumidor que busca moradia e não depende de financiamento continua ativo. O investidor que está em busca de oportunidades mantém o olhar atento e se movimenta com agilidade, buscando ativos subvalorizados. Já o investidor tradicional, de longo prazo, mantém as aquisições pontuais, sempre em busca de formação de patrimônio. Há um fator psicológico que é frequentemente ignorado pelos economistas: o medo de não conseguir comprar amanhã o que ainda se pode comprar hoje. Quando o comprador vê os preços dos materiais subindo, os valores dos imóveis se ajustando e a inflação corroendo a moeda, ele percebe que deixar o dinheiro parado ou em qualquer outro instrumento financeiro pode ser mais arriscado do que adquirir um imóvel agora — mesmo com juros altos. Esse efeito de “antecipação defensiva” sustenta o movimento do mercado em cenários que, à primeira vista, pareceriam inibidores. Quando se pensa em quais segmentos são os mais estáveis, vamos para os dois extremos do setor: habitação popular e imóveis de luxo. O alto padrão continua a ser o mais resiliente. Por atrair um público menos sensível ao crédito, tem ciclos próprios. Quando se trata de um comprador que pretende utilizar o imóvel, a aquisição se dá com ainda mais convicção patrimonial. Já entre investidores dessas faixas, muitas vezes, o bem é adquirido a preço de custo, em modelos de incorporação por permuta ou participação, o que permite ganhos relevantes. Na outra ponta, a habitação popular costuma demonstrar bastante resistência por operar em um ecossistema específico, com crédito subsidiado, forte demanda estrutural e uma dinâmica relativamente independente do mercado financeiro tradicional. Seu maior risco não é o preço do imóvel, mas a estabilidade do emprego do comprador. Outra curiosidade do setor imobiliário é que, mesmo quando saímos do segmento residencial, encontramos sinais de resiliência. Um exemplo são os galpões logísticos, que se consolidaram como uma estrela do setor desde a pandemia. O crescimento do e-commerce e a necessidade de soluções de armazenagem próximas aos centros urbanos elevaram a demanda por ativos modernos, demanda essa que ainda não foi suprida pelo setor de construção. Há uma lacuna significativa no parque logístico brasileiro, o que sustenta seu crescimento mesmo em momentos de contração econômica. Além disso, há o surgimento de classes de ativos, acompanhando a evolução da sociedade. Alguns exemplos: data centers, espaços de coworking, empreendimentos residenciais flexíveis, clubes de experiência. Esses ativos refletem mudanças de comportamento e exigências tecnológicas que vieram para ficar – e cenários turbulentos, embora possam desacelerar mudanças, não conseguem freá-las. Foi atento a esse cenário cultural-comportamental que o mercado financeiro viu o crescimento de veículos mais estruturados no Brasil, como os fundos imobiliários (FIIs), que têm se mostrado uma alternativa eficiente e acessível para a diversificação patrimonial e democratização do setor. Os fundos imobiliários têm carregado o mérito de garantir que o pequeno investidor acesse ativos antes restritos a grandes fortunas, com transparência, liquidez e gestão profissional. Claro que há a volatilidade inerente ao mercado de capitais, mas, mesmo após um ano mais desafiador, como o de 2024, esses fundos vêm recuperando fôlego e tendem a voltar ao seu ponto de equilíbrio, cada vez mais amparados pelo seu valor patrimonial e pela solidez dos ativos imobiliários que compõem suas carteiras. Daí a minha quase insistente defesa de que, mesmo em cenários adversos, há sempre boas oportunidades nos FIIs. Ao encarar o mercado imobiliário brasileiro como reflexo não apenas de fundamentos econômicos, mas também de questões culturais, sociais e emocionais, estamos nos abrindo a boas oportunidades. Imóvel no Brasil é e vai continuar a ser um instrumento de proteção, realização pessoal e investimento de longo prazo.
Por Itrês Stretegic 10 de abril de 2025
O poder transformador da ciência e da tecnologia sempre esteve no centro da nossa visão de futuro. Mas uma recente viagem, com o objetivo de conhecer algumas das mais avançadas tecnologias voltadas à área de real estate, reforçou de forma definitiva essa convicção. Passei pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), em Boston, e no DatacenterDynamics (DCD), em Nova York, agora em março para um mergulho nas inovações que têm potencial para reconfigurar profundamente o setor imobiliário – da infraestrutura energética aos materiais de construção, passando pelo uso inteligente de dados. Voltei com um aprendizado fundamental para quem trabalha ou investe no mercado imobiliário e de construção: embora o setor tenha como uma de suas principais características ser consolidado e até mesmo conservador, em um futuro próximo, a capacidade de inovar não será apenas um diferencial competitivo — será uma questão de sobrevivência. O boom no setor de data centers tem feito com que nosso olhar se volte cada vez mais para a questão da energia, mas trata-se de avanços que vão impactar todo o desenvolvimento imobiliário. Por isso, entre as muitas tecnologias exploradas, verificamos no DCD em Nova York os Small Modular Reactors (SMRs), pequenos reatores nucleares modulares, que chamam a atenção pela capacidade de fornecer energia limpa, contínua e em larga escala a partir de unidades compactas, comparáveis ao tamanho de um contêiner. Com autonomia de operação de vários anos sem reabastecimento, sua flexibilidade de instalação pode significar uma nova era na autossuficiência energética de grandes empreendimentos imobiliários — incluindo data centers, parques logísticos e complexos multiusos. E sem os típicos riscos das grandes usinas nucleares, já que a segurança se dá nos mesmos moldes de um equipamento de raio-x dentro de hospitais. Outra pauta de igual relevância à inserção da inteligência artificial no DCD Nova York é a da “sustentabilidade digital”. A iniciativa visa incorporar tecnologias que tornem os data centers mais verdes e eficientes, focando na redução de emissões e na conquista de créditos de carbono. Além disso, busca-se otimizar a eficiência operacional, com ênfase na redução de PUE (Power Usage Effectiveness) e WUE (Water Usage Effectiveness). Esses esforços não apenas promovem avanços tecnológicos, mas também reforçam o compromisso crescente das empresas com os critérios ESG, cruciais para o futuro sustentável do setor. Em paralelo, o desenvolvimento de chips mais eficientes energeticamente vem se mostrando essencial diante da explosão da demanda por processamento, especialmente com o avanço da inteligência artificial. Atualmente, a energia consumida por racks em data centers pode ultrapassar 100 kW — um salto exponencial em relação aos padrões de poucos anos atrás. Pesquisadores trabalham para reverter esse cenário, criando processadores capazes de manter ou até ampliar sua performance com consumo muito menor. A eficiência energética deixa de ser apenas um diferencial técnico para se tornar um pilar fundamental da viabilidade de negócios digitais e da infraestrutura que os abriga. Outra fronteira promissora está nos materiais que produzem energia. Um exemplo instigante é o estudo de um tipo de concreto com propriedades semelhantes às de um capacitor, capaz de captar e armazenar energia térmica ou vibracional diretamente nas superfícies das construções. A ideia de que elementos estruturais possam se tornar fontes auxiliares de energia abre caminho para uma arquitetura mais inteligente, autossuficiente e integrada à lógica da sustentabilidade. E se tratamos da capacidade energética para atender uma demanda cada vez maior para lidar com quantidades volumosas de dados, é a própria inteligência artificial e sua capacidade de trabalhar dados que começa a causar outra transformação no setor imobiliário. Em Boston, o MIT Sustainable Design Lab simula o consumo de energia de quase 100 mil edifícios da cidade, com base em dados geoespaciais, idade das construções, tipologias e uso do solo. O modelo permite identificar oportunidades de eficiência, planejar microgrids e redes de energia combinada e orientar políticas públicas com base em evidências precisas. Uma abordagem que inspira também o setor privado, sobretudo em projetos de larga escala, que exigem previsibilidade e resiliência. É possível entender o estágio de maturidade de cada tecnologia, seus potenciais impactos no mercado e quais áreas da cadeia imobiliária podem ser transformadas. Em um cenário de rápidas mudanças, ter informação é essencial para profissionais e empresas tomarem decisões que maximizem o potencial das oportunidades. A mensagem que compartilho a partir dessa experiência é clara: o setor imobiliário do futuro será moldado por dados, ciência, colaboração com centros de excelência e uma mentalidade de experimentação constante.